A arte de Magali Villeneuve tem encantando cada vez mais os amantes dos mundos fantásticos da literatura, dos jogos e do cinema mundial. O Senhor dos Anéis, As Crônicas de Gelo e Fogo, Warhammer, Magic: the Gathering e Star Wars são algumas das franquias de peso que já ganharam vida pelas mãos da ilustradora.
A jornada de uma autodidata
Nascida em 1980 na cidade portuária de Bordeaux, França, a artista começou a desenhar desde pequena. Sem dúvidas, isso a auxiliou a contornar o fato de nunca ter recebido qualquer tipo de instrução artística formal. Autodidata, Magali começou a sua carreira profissional há cerca de 15 anos, ilustrando capas de livros para pequenas editoras. Os trabalhos realizados à época pouco ou nada tinham a ver com o que faz atualmente.
Magali Villeneuve: entre sombras e cores, a dança sutil da inspiração
Suas principais fontes de inspiração são os movimentos artísticos Caravaggismo e Pré-Rafaelismo. O primeiro por conta dos usos das sombras e luzes, que ela considera fortes e expressivos, quase brutais. O segundo, devido à abordagem dada às figuras humanas, fruto de muita observação e grande atenção aos detalhes, bem como ao uso das cores. Magali Villeneuve também encontrou inspiração em artistas modernos como Michael Komarck, Donato Giancola e Chase Stone, os quais considera terem um forte senso de composição e estilos inimitáveis.
O mergulho no mundo da fantasia
Sua ambição inicial era a de trabalhar como animadora para os estúdios Disney. Após ler a saga A Roda do Tempo de Robert Jordan, mudou de rumo e decidiu tornar-se ilustradora de fantasia. Certo dia, enquanto estava em uma biblioteca, descobriu que a Fantasy Flight Games havia publicado um catálogo de ilustrações de As Crônicas de Gelo e Fogo. Decidiu, então, enviar seu portfólio à empresa e torceu muito por uma resposta positiva. Cinco dias depois, a resposta veio e ela passou a ilustrar o living card game (LCG) A Game of Thrones para a Fantasy Flight.
Atualmente, Magali Villeneuve cria artes para jogos de tabuleiro, de cartas, RPGs, jogos eletrônicos e capas de livros, transitando entre as maiores empresas do gênero fantástico para essas mídias, como a Wizards of the Coast, a Cygames, além da já citada Fantasy Flight Games.
Entre traços e palavras
Por falar em livros, Magali decidiu criar seus próprios mundos fantásticos. Publicou em 2012, em parceria com seu marido e também ilustrador de talento, Alexandre Dainche, a série de fantasia sombria La Dernière Terre. Os dois primeiros livros L’Enfant Merehdian e Des Certitudes foram publicados simultaneamente pela editora francesa L’Homme Sans Nom. As obras estão disponíveis apenas em francês e possuem ainda uma adaptação para os quadrinhos no mesmo idioma.
Dentre os trabalhos realizados que mais a orgulham, ela destaca uma ilustração de Daenerys Targaryen para o LCG de A Game of Thrones. O trabalho mereceu um “UAU” por parte do próprio George R.R. Martin. Julgue você mesmo(a):
Processo de criação
Atualmente, Magali Villeneuve desenvolve a sua arte por meios digitais, exceto por esboços a mão. O esboço é escaneado, retocado e colorido digitalmente, o que a permite terminar ilustrações de capas de livros em até cinco dias, trabalhando dez horas diariamente. O primeiro dia é sempre utilizado para encontrar a gama de cores para a peça e o posicionamento das luzes. Os demais dias são utilizados para executar a pintura propriamente dita, com bastante atenção aos detalhes.
Ao contrário da maioria das mulheres ilustradoras francesas, Magali não é muito atraída por desenhar fadas e coisas bonitinhas. Ainda que o seu trabalho a leve a desenhar elfos e congêneres, ela se sentiu muito feliz em trabalhar com a franquia Warhammer da Games Workshop. Sua grande paixão enquanto artista é dar vida a mundos tipicamente masculinos, onde imperam a guerra e a força. Porém, isso não quer dizer que Magali Villeneuve despreze o feminino em sua arte. Muito pelo contrário:
Eu amo pintar mulheres e sempre amei. E levo muito a sério retratar figuras femininas críveis. Gosto de mostrar que bonita não necessariamente significa sexy, que sexy não necessariamente significa vulgar e que forte não necessariamente significa agressiva (isso vale também para os meus trabalhos com personagens masculinos).
Magali Villeneuve
Da Terra Média ao Multiverso
Durante anos, dedicou a maior parte de seu tempo a desenvolver artes para os jogos de tabuleiro e LCGs da Fantasy Flight Games. Curiosamente, é daí que vem grande parte dos questionamentos por parte de fãs acerca de sua obra. Alguns dos personagens principais ilustrados por ela para o LCG O Senhor dos Anéis, baseado no Legendarium de J.R.R. Tolkien, são bem diferentes do imaginário imortalizado pelo filmes de Peter Jackson. Em sua defesa, ela aponta a exigência da empresa em manter-se fiel às descrições dos livros.
Hoje, a sua arte dá vida a um número crescente de cartas de Magic: the Gathering, deixando sua marca inconfundível no card game mais popular do mundo. Ela começou a ilustrar cartas do multiverso de MTG no lançamento de Theros e Commander 2013, prontamente sendo aclamada pelos jogadores. A artista chegou até a receber um lançamento Secret Lair dedicado a sua obra.
Magali revela que dar vida a cartas azuis e verdes é algo que flui naturalmente para ela. No entanto, desbravar o território das cartas pretas é, para ela, um desafio mais intrincado, enquanto as vermelhas, embora mais raramente comissionadas pela Wizards of the Coast, são fonte de prazer supremo para a artista, que se deleita na riqueza das cores quentes.
Ela acrescenta a sua preferência por retratar pessoas em detrimento de feitiços ou criaturas fantásticas. Se justifica pela demanda mais intensa de reflexão no desenho, aliada à necessidade de compreender o contexto desses elementos dentro do jogo, de forma a oferecer uma representação plena do objeto.
Magali sonhava em ilustrar uma carta do planeswalker Jace Beleren. Isso ainda não aconteceu, mas ela conseguiu realizar o sonho, de certo modo, ao conceitualizar a estátua de [scrylink]Jace, O Escultor de Mentes [/scrylink] lançada pela Gatherer’s Tavern.
Essa não foi a única vez em que ela se aventurou a dar vida a personagens icônicos em três dimensões. Um certo Drow e sua companheira mágica, saídos das páginas de R. A. Salvatore e do universo Dungeons & Dragons, também foram homenageados com uma fantástica estátua.
Conselho aos aspirantes a ilustrador
Embora muito feliz em ter despontado como grande nome da ilustração fantástica, Magali afirma que nem tudo são flores. Segundo ela, no início o retorno é muito aquém do esperado e a carga de trabalho (quando há) é elevada. Após estabelecer-se na indústria, você deverá lutar para permanecer nela. “Construa uma armadura para si”, é o primeiro conselho que ela dá.
O segundo, mas não menos importante conselho, é o de encontrar o que você faz melhor e desenvolver esse talento. Ela adverte contra fazer como muitos jovens artistas, que tentam provar que podem fazer qualquer coisa (o que raramente é verdade). Magali crê que a melhor forma de obter conhecimento é chamar a atenção pelo que torna o artista em questão especial. Felizmente, ela claramente encontrou o seu forte, dando vida aos nossos personagens e mundos favoritos.